O FIM








O Apocalipse é agora, now.
O fim dos tempos e das coisas
É chegada a hora do ômega
Estrelas cadentes já não passam ao largo
Anjos descem dos céus, taças cheias de pragas.
Muitos são os riscados do livro da vida
Os mornos já são o vômito de Deus.
Bestas com dez chifres e sete cabeças campeiam
Espalhando a blasfêmia e a ira
O Sol se apagou aos poucos, feito vela.
Tudo é morte sob o gelo antártico
Fogo e sangue saem das trombetas de sete anjos
Noites e manhãs fundem-se na escuridão
Ruas vazias, sem vida.
Uns poucos famintos sem rosto
Erram samurais, faraós, ciganos e odaliscas
Não há paz, só dor e ranger de dentes.
A Broadway é um deserto sem arte
Só fantasmas na grande ópera bufa
Alguns poucos zumbis vagam sem rumo
Párias sem casta, sem direitos, só tormenta.
As milenares baratas infestam tudo
Brotam mãos ressecadas das velhas tumbas
O futuro é apenas conceito remoto
desgastado, desacreditado.
Sem tempo cessa a esperança
Não há sonhos na iminência do abismo
O odor de enxofre sufoca, envolve e perfuma
Secaram o Ganges, o Nilo e o Yang - Tse
As religiões descumpriram suas promessas
Já não há Buda, Maomé ou Cristo.
É o fim da salvação.
Fiéis se amontoam, olhar fixo no céu.
Onde estão os apóstolos para o Juízo Final?
Pregadores escondem-se na sombra da descrença
Há serenidade na morte dos velhos
Deitam-se e são tocados pelo olhar gelado da morte
Angústia na agonia dos jovens
ansiando mais um minuto de vida
Olhos de vidro, pálidos, trêmulos
Sabendo que o amanhã jamais virá
Paris já não precisa da guilhotina
O óxido corrói profundo a Torre Eiffel
Não há movimento nem cor
Restam cinzas, pó, sombras do que já foi.
Flores murchas decoram antigas sacadas
Amazônia, galhos retorcidos fincados na areia
Nada cresce ou viceja no caos
Solitária borboleta voa sem poder pousar.
Pousar é descanso para seguir
Para seguir é preciso ter onde ir

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